Apesar do discurso público frequentemente duro contra a imigração, com retórica de lei e ordem, a realidade económica e demográfica da Itália evidencia uma dependência crescente de trabalhadores estrangeiros. Nos últimos anos, o país aprovou a emissão de centenas de milhares de vistos de trabalho para não-comunitários, como forma de colmatar graves falhas no mercado laboral.
Dados de 2024 revelam que, enquanto mais de 380 mil estrangeiros entraram legalmente no país, o número mais alto em uma década, cerca de 155 mil italianos emigraram. Tal dinâmica sublinha a contradição entre a necessidade estrutural por mão-de-obra e a retórica restritiva adotada por parte do espectro político e segmentos da opinião pública.
Para empresas do campo, construção, saúde e turismo, os trabalhadores migrantes são vistos como essenciais. Organizações patronais e especialistas em mercado de trabalho argumentam que a imigração é indispensável para evitar o colapso de sectores fundamentais da economia. Por outro lado, políticas restritivas, retórica de nacionalismo identitário e propostas de controlo de fronteiras mantêm viva a hostilidade contra imigrantes, mesmo quando se reconhece sua utilidade económica.
O que emerge é um paradoxo profundo: a Itália, tal como outros países europeus, precisa de imigração para manutenção de serviços, sustento da economia e compensar o envelhecimento da população; mas politicamente e socialmente promove discurso de rejeição. Esse contraste entre necessidade prática e retórica nacionalista torna-se insustentável a médio prazo, abrindo tensões entre economia, demografia e identidade nacional.

